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Minha adoção foi um pesadelo?

Adoção 

Meu nome é Joelma, tenho 38 anos, filha única e eu não sou filha biológica dos meus pais, fui adotada quando era criança e por muitos anos isso foi um pesadelo para mim.

Eu resolvi fazer esse texto como forma de eternizar uma lembrança que marcou a minha vida, que talvez não seja o mesmo que você viveu mas, quem sabe você consiga ajudar alguém. 

Eu morava em uma cidade no interior da Paraíba, com uma população de aproximadamente 10 mil habitantes. Meus pais eram casados há muitos anos e não poderiam ter filhos, naquela época era muito fácil adotar uma criança, principalmente em uma cidade tão pequena, eles souberam que uma mãe estava doando seus 4 filhos, pois não tinha condições financeiras e psicológicas de criá-los , foi então que eu entrei na vida deles, como forma de esperança de ter a tão sonhada filha. 

Recebi muito amor, cuidado, carinho, atenção, tudo o que uma criança precisava. Por ser uma cidade tão pequena, todas as pessoas praticamente se conheciam e obviamente todos sabiam da minha história, menos eu. Meus pais estavam esperavam que eu tivesse uma idade certa para o entendimento para poder contar a verdade, porém o que eles não sabiam era que em todos os lugares que íamos sempre tinha alguém falando para mim, eu criança com mais ou menos uns 6 aninhos, recebia informações de adultos e de crianças também, eles olhavam para mim e diziam: nossa, como você teve sorte de ser adotada, você sabia que não é filha da sua mãe? Eu não entendia o porquê as pessoas estavam falando aquilo, eu apenas escutava e não falava nada.  Com uns 7 a 8 anos minha mãe sentou comigo e carinhosamente falou: filhinha a mamãe te ama mais que tudo mas, você não veio da barriga da mamãe, você veio do coração, a mamãe que teve você na barriga dela não pode cuidar de você e por isso ela me deu, porque eu queria muito ter uma filha e você foi meu presente de Deus. 

O que gera na cabeça de uma criança uma informação dessa? Na minha mudou muita coisa, pois parecia que a partir daquela momento, eu conseguia enxergar a diferença entre mim e meus pais, eu negra, meus pais brancos, tios, primos, avós, todos eram brancos e de olhos claros. 

Mas, o que realmente marcou a minha vida nessa fase? O que eu ouvia na escola e em todos os lugares que eu estava. As crianças falando rindo: você não é filha da sua mãe, os pais dos meus coleguinhas da escola falavam para mim bem baixinho: você sabia que a Nazaré não é a sua mãe? Sua mãe verdadeira é uma louca. 

Sim, eram essas as frases que eu ouvia quase todos os dias, eu chegava em casa chorando muito e dizia que não queria voltar para escola e com o tempo fui crescendo uma criança sozinha, porque todos a minha volta falavam alguma coisa negativa a respeito da minha adoção. 

Um gesto tão lindo, tão nobre que é o ato de adotar, estava fixado na minha cabeça como algo ruim e foi ai que comecei a sentir raiva da minha mãe biológica, porque ela era a culpada de tudo aquilo que estava acontecendo comigo. Isso durou a minha adolescência, no colégio os coleguinhas sempre fazendo brincadeiras relacionados com a minha adoção. 

Lembro perfeitamente de pessoas que ligavam na minha casa, quando eu atendia o telefone eles apenas gritavam e riam que eu era filha de uma louca. De fato a minha mãe biológica tinha algum tipo de transtorno mental, eu a vi algumas vezes quando era adolescente mas, ao invés de abraça-la, cuidar dela e ficar feliz por ter duas mães. Eu simplesmente me escondia, eu não queria ver ela, não queria saber que ela existia, porque era culpa dela todos os tipos de bullyng que recebia. Que postura horrível, eu sei, e me arrependo amargamente disso, porém era como eu enxergava na época e a condição a qual eu me encontrava não eram favoráveis para um entendimento. 

Eu cresci "odiando" a minha mãe biológica, fui perseguida por esses “colegas"até o final do meu colegial. Depois de alguns anos, eu decidir sair daquela cidade e ir começar uma vida nova em João Pessoa, onde as pessoas não me conheciam e ninguém iria ficar rindo de mim por ser filha adotiva. 

Eu estou expondo essa história que é muito dolorosa para mim, como forma de alertar as pessoas que fazem algum tipo de “brincadeira"com outras pessoas, seja pelo peso, pelo cabelo, cor da pele, altura, condição sexual, nacionalidade ou qualquer outra coisa que é caracterizado como preconceito/discriminação. 

Esse tipo de bullying que eu sofri, arrancou de mim o direito de conviver com a minha família biológica, de dar um abraço na minha mãe, pai e de conviver com meus irmãos. 

Infelizmente a minha mãe biológica não está viva e não temos noticias do meu pai biológico. Porém, eu tive a chance de conhecer meus irmãos e sobrinhos. Por enquanto esse contato ainda esta no virtual, pois ainda não tivemos a oportunidade de nos conhecermos pessoalmente. 

Fico feliz que hoje em dia muitas coisas mudaram, temos acesso a informação, sabemos o que é discriminação, abuso psicológico, bullying entre outros comportamentos inaceitáveis. 

A minha história poderia ter sido diferente se não houvessem essas pessoas para me causar traumas e feridas tão difíceis de cicatrizar. 

Por um mundo melhor, sem discriminação e preconceito. 


Comentários

Karina Terra disse…
Por que plantar dor onde poderia ser plantado amor, né? Importante sempre lembrarmos de florir a vida das pessoas que cruzam nosso caminho! Muito triste seu relato! 😔
Bia disse…
Nossa que história, não deve ter sido fácil. É assim mesmo palavras nos machucam muito, lembro também quando criança quanto bullying eu sofria e carreguei isso por muito tempo.
Josy Mary disse…
Mas que bom que você superou e Deus tem te dado forças pra não deixar esse tipo de situação te parar! Que seu relato possa servir de exemplo para outras pessoas 😘
Carlene disse…
Nossa! Como existe gente ruim nesse mundo!
Chocada!
Sei que você passou por um longo processo até aqui e graças a Deus você é uma pessoa completamente diferente
dessas que te atormentaram a vida!
Sou muito grata pela sua vida. Mesmo sendo apenas uma amiga virtual (por enquanto ��)
Andréa disse…
Mora no meu coração ❤️❤️❤️❤️
Irinaldo disse…
Poxa como foi difícil para vc. Mas que bom que hoje vc superou e se tornou uma mulher maravilhosa.
Amanda Aguiar disse…
Muito Feliz por vc ter conseguido dar a volta por cima no seu trauma e te transformado sua vida! Da gosto de vê e saber que podemos ser oq nós quisermos, basta lutar p que tudo se transforme, e Deus c ctz faz o resto...Ninguem vai saber das suas lutas, o qt foi difícil, mas vc deve ter muito orgulho sempre de vc! C ctz todos têm, inclusive sua mãe biológica! Acredite, lá de cima faz por vc oq ñ pode em terra, e vê os sentimentos bons q conseguiu trocar ao longo do tempo dentro do seu coracao. �� Que Deus te abençoe cada dia mais, vc c ctz irá longe em todos os seus propósitos. Vc é inspiração ����
Unknown disse…
Saudade de ti, guerreira. Sei que por onde passar levará luz. Deus te cuide e te abençoe 🙏❤️💋🙌🕊️
Jô Maciel disse…
Obrigada a todos pelas mensagens de carinho!!! Gosto de partilhar histórias que me marcaram de alguma forma e deixar uma mensagem do quanto a nossa atitude pode afetar na vida do outro. Feliz em ter vocês aqui 🧡